16 de setembro de 2011

10 de setembro de 2011

E o sentido, Luciano?!

Durante meses, no curso de filosofia na Faculdade São Bento, fui editor dum hebdomadário chamado O Implikant. Nele, temas filosóficos foram tratados sob o manto do ecumenismo. Na pauta, sempre, rodeávamos duas palavrinhas - terríveis palavrinhas: verdade e sentido. A bem dizer, uma e outra dão no mesmo. Se chego ao sentido de tudo, chego à verdade que, aqui, vai no sentido não de conformidade, mas de... desvelamento. Rigorosamente, seria chegar ao "ser". Chegar àquilo que é. Chegar àquilo que não é aparente. Tocar o íntimo do âmago do ente. E, aí, encontrar o sentido de nossa existência. Chegar às razões radicais.


Durante algum tempo - algumas aulas - instei com o professor Luciano (vulgo O Mestre) para que centrássemos nossos esforços mentais naquilo que, pra mim, é o essencial em filosofia. Mas fi-lo numa aula de fenomenologia que não tem esse objeto como seu elemento base. Particularmente, em que pese meu respeito pelo Mestre, o único sentido de haver filosofia é buscar o... sentido do real (contraditório?).

Buscar sentido (a verdade) é estar doente. A cura? A ilusão. Nada além de uma ilusão. "Eu não quero nem peço, para  o meu coração, nada além de uma linda ilusão". Mas quando tenho surtos, Luciano, não quero nada, nada além da verdade. Só ela me libertará.
  



7 de setembro de 2011

Patrícia

Descoberta a farsa, Antenor capota o veículo e sai ferido. Agora é aguardar ate amanhã para ter os detalhes.

Você, leitor, que não está entendendo nada, vai entender agora.

A nova novela da Globo chama-se Fina Estampa. O núcleo principal tem como protagonista Antenor. Antenor  é filho de uma mulher pobre (áspera estampa). Ele quer se casar com uma menina rica, Patrícia. Para tanto, diz-se homem de berço e mente sobre 99% de sua vida. Hoje, 100% das mentiras foram desmascaradas, dramaticamente.

A mim me chamou a atenção Patrícia. Ela foi de uma sinceridade ímpar. Enquanto faltava em tudo um mínimo de verossimilhança, ela foi veraz. O grito dado à mão foi tocante, verdadeiro. Logo depois, no seu quarto, chora. Chora como gente grande.

Antenor, Griselda, Thereza Cristina, Renê...  Eles nada disseram. Patrícia estava vendo seu castelo desmoronar-se diante de um mar de mentiras. Antenor, por mais canalha que fosse, era também o amor de sua vida. Sua mãe (Christiane Torloni), numa atuação muito ruim (caricatura da caricatura), consegue tirá-la do sério.

Esta novela não tem futuro. Poderá até ter Ibope. Mas não terá futuro.

Mas, não se turbe o vosso coração. Vou deixá-los, a vós que vos ocupais de temas mais graves, sempre ao corrente dos fatos. E vou buscar ver aquilo que mais se me apresente como, de fato, importante. E, no capítulo que acaba de acabar, foi Patrícia, e sua primorosa atuação, que merece meu comentário.

Agora, vou retornar à leitura da Biografia do Schopenhauer, do Rüdiger Safranski. Não estou gostando muito. Há mais romance que biografia. Mas ainda estou no meio do caminho. Talvez melhore mais à frente.





4 de setembro de 2011

Suposição

Vamos supor que eu morresse. Um mal-súbito. Uma dor. Sei lá. O que importa é que eu morra, de modo que minha suposição ganhe realismo. Pois bem: morri. Agora, vamos aos acontecimentos futuros. Lamentações. Alguns vão lamentar. Mainha, principalmente. Vania mais que todos, imagino. No meu trabalho, hão de dizer: "Cláudio?! Morto? Oh!". Eu, do outro lado, estarei morto. E do lado de cá, idem. Há bilhões de pessoas no mundo. E há muitas estrelas na galáxia. Minha morte será uma tremenda efeméride. Mas se eu ficar vivo, talvez seja melhor. Vamos então supor que eu não morra, e que fique vivo. Isso não muda nada. Mainha nada dirá, nem Vânia dirá nada. Ficar vivo não muda nada. Morrer, sim. A diferença é que morrer, no meu caso, seria uma mera suposição, a não ser que eu, de fato morresse. Já viver, no meu caso, é algo real; a não ser que eu morresse e, por isso, deixasse de viver.

23 de agosto de 2011

Calamanaia

Não tenho o dom de falar em línguas estranhas, e nem o dom de interpretá-las. Se tivesse um dos dois poderia dizer o significado de calamanaia. Considerando a frequência com que o termo é usado, creio que deva signicar: glória, amém ou aleluia.

20 de agosto de 2011

18 de junho de 2011

5 de junho de 2011

Dique do Tororó - Filmado por Devana

Palavras do Coração

Gosto da letra e da melodia, mas creio que Minéia vai gostar mais que eu.



A Breve Saga do Apêndice de Zeca Oreba

Por Daguma

Na quarta feira fizemos sarau na escola São José onde Zeca recitou Patativa e tocou Yesterday na gaita de boca. Há dias ele falava que queria comer pizza...

Depois que desarmamos o circo (sarau) e guardamos tudo que tinha de ser guardado nos altos da casa da Shirlene, Bia, Lana, Priscilla e Zeca começaram a cantar o maravilhoso funk “A Larica dos Moleques” ao som de ‘Lucy’, o violão de Devana Babu. Apesar de ser um pouco tarde, a Marlisete, esposa de Edvair e mãe de Lana, ligou para a Pizzaria de uma amiga comum e pediu pra segurar o negócio aberto até a nossa chegada, no que foi prontamente atendida. E lá fomos nós. Comemos, bebemos, cantamos, farreamos e voltamos pra nossas casas. Dormimos e acordamos pela manhã, porém não muito cedo, que nós somos boêmios da noite. Mas o Zeca acordou com dores na barriga e acabou no banheiro em situação nada agradável. A situação foi piorando ao ponto de irmos ao posto de saúde local, onde pra variar não tinha pediatra. Fomos ao Postinho médico do nosso bairro, onde ele foi atendido pelo médico de plantão que, pasmem! Diagnosticou apendicite, mas como não é pediatra recomendou levá-lo com urgência ao HMIB, o Hospital infantil de Brasília, o que fizemos de pronto, na companhia de Edvair, que nos levou. Chegamos às 15h no hospital. Chegando lá o de praxe: ficha, senha, espera, chamada... Fizeram ecografia, depois exame de sangue e o pediatra mandou-nos de volta, pelas 18h, pra casa, pro Zeca ficar em observação. Buscopan, antiinflamatório, cara feia, etc. Zeca dormiu até bem, mas, pela manhã mais dores e ai mamãe prá lá, ai mamãe pra cá. Pelas 14h, chama-se o Edvair e vamos de novo pro hospital. Mais exame de sangue acompanhado de radiografia e a única preocupação do Zeca era o jogo do Brasil. Se ia ficar internado precisava de uma televisão. Se não ia, que hora voltaríamos pra casa. Por fim assistimos ao jogo no saguão do hospital, eu, ele e Edvair. Ele, claro, contestando a escalação de mano Menezes e detonando o Fred, jogador do fluminense, por eu e Edvair sermos tricolores. Chamam-no de volta depois dos exames prontos. Juntam-se três pediatras em discussão sobre o caso. Chamam mais um Cirurgião para a discussão. Veredicto final: Apendicite e cirurgia! Já! Já quer dizer umas duas horas depois. Sem água e sem comida. Metem-lhe o soro na veia. Aparece o anestesista. Se lascou, o cara era tricolor e lançou a pergunta: o senhor tem mais algum problema além de ser flamenguista? Como assim, pergunta Zeca. E o anestesista responde: È que eu costumo dar uma dose bem pequena de anestesia aos flamenguistas (Rá, rá, rá!). Bom, pra sorte do Zeca o Cirurgião era flamenguista. Meia-hora depois de entrar na sala de cirurgia e com um furo de dois centímetros na barriga, Zeca foi para a enfermaria e meio acordado meio dormindo reclamou com a mãe: Você me enganou... snif... Disse que não ia doer nada... snif... Mas doeu... Snif...

Agora é meio-dia do dia seguinte e estamos saindo pra visitá-lo.

Devo dizer que o bicho é sujeito-homem. Não amarelou em nenhum momento. Mas como dizem que o poeta é um fingidor...

10 de maio de 2011

Direto de Cuiabá

Duas postagens que fizemos abaixo (uma sobre Peninha outra sobre Eladia Blasquez) mereceram comentários do leitor e amigo Manoel Lacerda Lima, direto do Mato Grosso.

Acerca da postagem Completamente Seu, diz Manoel:

a) Na vida, como em tudo que está no Universo, os processos obedecem ao gráfico cartesiano de início, crescimento, ápice e decrescimento, até chegar ao ponto big-bang, onde a energia se concentra e explode para dar início a algo novo.


b) Nenhum fato é bom ou ruim. O que é bom ou ruim é a atitude que se tem diante do fato. Assim, sentir revolta e conformismo diante de um fato, é apenas uma questão de escolha. O conformismo é uma virtude, porque é atitude própria dos fortes (virtude se inicia com vir, de viril), dos que têm a consciência de que tudo pode ser rerpcessado.

c) O poeta dá a lição dos que vê apenas o lado bom da vida:

- Ter saudade é melhor do que ter um mundo vazio
- A esperança faz parte natural da minha vida
- Você me ensinou muitas coisas, entre elas, a de não deixar morrer o sonho de sempre ser feliz.

Acerca da postagem Honrar  a Vida, diz Manoel:

Honrar a vida é viver intensamente o agora, dando verdadeiro significado ao existir, cujo alcance semântico vai além do significado de viver. Honrar a vida é estar consciente de que todo o universo circundante é produto da própria atitude mental. Saber que a queda (caída) pode fazer parte para aquele que não consegue transcender a lei de causa e efeito, tendo que cumpri-la, mas sabendo que cair é apenas uma etapa do levantar-se. A lei, toda lei, não existe para ser cumprida, mas sim, para ser transcendida. Só cumpre a lei aquele que provoca a materialização de sua incidência, que é sempre abstrata. Assim, quanto mais se transcende a lei de causa e efeito (lei do carma), mais se honra a vida. É um erro pensar que o sofrimento é necessário para a lapidação do caráter, pois ele é um processo de quem escolhe o caminho da dor, por não ter transcendido a lei de causa e efeito, obrigando-se à colheita do que plantou. Vejo na letra da canção de Eladia Blasquez uma mensagem oposto a de Francisco Octaviano, que expressou:


Quem passou a vida em brancas nuvens
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

5 de maio de 2011

A Boca Escancarada de Devana Babu

Raul Seixas é um dos poucos compositores que eu conheço que fala, em suas músicas, sobre sua vida como artista, depois do sucesso e do reconhecimento. Isso é raro. É algo que só se vê em verdadeiras deidades musicas, categoria da qual faz parte.

Essas tais deidades são artistas de uma magnitude incomensurável na música, cujo poder e influência se estendem até os mais inesperados recantos. Geralmente, são artistas cuja discografia é gigantesca, e que não se podem envelopar em determinado período da história, embora tenham importância vital para vários deles. Caras que criaram a música, praticamente. Caras que são tocados de botecos ordinários a festas do Lago Sul.

Raul Rock Seixas pertence a essa categoria. A mesma em que estão David Bowie, Caetano Veloso, Bob Dylan, Elvis Presley, Arto Lindsay e os Beatles. É um grupo muito seleto. A maior parte desses caras, parece, não morrem nunca, e, não morrendo, não param de gravar e revolucionar nunca.

Raulzito, coitado, não aguentou tanto tempo. Mas pra quê mais?

Ouro de Tolo é uma canção que mostra bem esse lado dele, se bem que não seja dificil garimpar esse tipo de exemplo na sua obra. Muito pelo contrário.

Nessa canção, Raul fala sobre sua própria situação em determinada época da vida: batalhou, passou fome, lutou pela sua arte e se tornou um artista do mainstream, reconhecido, vendendo discos de platina, arrotando saúde, com casa, carro, e todas esssas porcarias. Mas Raul nos antecipa: e daí? Ele não acha graça nenhuma. Ele gosta é da luta, da dor. Conseguir não tem graça.

Belo dia, tendo voltado de manhã pra casa e acordando por volta do meio dia, desperto com minha imão falando: "Tí Claudinho mandou você fazer uma crítica sobre a música Ouro de Tolo". Ouvir isso ao despertar é, no mínimo, atordoante. Confesso, abestalhado, que não entendi nada, e o recém despertar não ajudou nem um pouco. Quê? Cuma? Por quê essa música? Tudo bem... gosto muito de Raul, tenho sua discografia completa em mp3, adoro essa música, mas... Por quê ela? Achei que titio estava doido. Tão jovem! Mas agora percebo quão maquiavélico ele foi. Não sei como, mas adivinhou minha alma, tocou na minha ferida. Agora percebo seu propósito e, portanto, aqui vão minhas impressões sobre a letra.

Não farei aqui uma análise da mesma. Cá ente nós, que me perdoem todos os analistas, mas esse lance de análise de música é besteira. E em todas as artes é assim. Ora, pra quê dizer o que o cara quis dizer com uma letra? O cara já não disse tudo... na letra! Daidecorrem duas coisas: se é preciso explicar a letra, ou o autor é muito ruim - e não foi bem sucedido em transmitr a mensagem - , ou o ouvinte é muito burro a ponto de não entendê-la. Ponto. Portanto, se você ler uma análise de música, fique atento: o autor da análise está te chamando, taxativamente, de burro.

Mas não se ofenda. Não há nada de errado em ser burro. Eu também sou burro e leio análises de músicas, porque existem pessoas muito mais inteligentes que eu, que entenderam coisas que eu jamais entenderia sozinho, e obrigado por me explicar.

Ainda: música é como piada. Não pode explicar, senão perde a graça, não é não?

Agora, falar sobre as impressões, histórias, desdobramentos, sentimentos... isso é outra coisa.

Ouro de Tolo.

Tio Maquiavélico.

Existe um momento, na vida de toda pessoa que tem alguma ambição artística, em que ela tem que dar uma resposta qualquer à sociedade e às pessoas que a cercam, ou com as quaias tem algum vínculo, inclusive afetivo e econômico.

Raulzito, meu filho, teve que ser um maldito, um artista vagabundo e imprestável, e teve que ser tornar o dito cidadão respeitável que ganha quatro mil por mês para, depois, fazer o que bem quisesse. Conquistar um milhão de coisas.

Ele desdenha de tudo isso. Ele não quer um corcel 73, nem dar pipoca aos macacos, nem andar de tobogã. Eles está dizendo claramente: gente, deixa de ser besta! Isso nao tem graça nenhuma, tem coisa muito melhor nessa vida. E está dizendo: vocês não podem me criticar, eu sou tudo o que voces são e tudo o que vcs queriam ser. E, ao mesmo tempo, está dizendo: deixem de ser bestas, seus artistinhas de merda. Façam como eu! Isso é uma etapa necessária.

Só raul pra pagar sapo pra todo mundo e sentar no trono de seu apartamento, altivo, mas sem se acomodar: com o olho fixo nos discos voadores. O que me lembra de meu tio Cláudio (pelo visto, maquiavel não encarnou só em papai).

Tio claudinho sempre foi meio ricardístico; A imagem do cara bem sucedido e corporativo, mas a inda assim um artista de qualidade inquestionavel e vivência imbarrável. É tudo o que gente como eu e Sakuro queríamos ser, mas não temos competência pra isso.

Ricardo, tio Cláudio, temos inveja de vocês.

Tio Claudinho me lembra muito a música ouro de tolo. Mas não levianamente. De forma assustadora! Um cara sentado no trono de um apartamente, em uma cobertura na área nobre de salvador, olhando para os discos voadores lá fora, disparando sua lira para todos os pobres mortais cá de baixo.

Ainda tenho flashs de mim e minha irmão Priscilla, comendo com ele no mac donalds, ou no cinema do pátio, ouvindo ele dizer sarcásticamente:

- Titio é o quê, meninos?

ao que respondíamos, eufóricos, em uníssono:

- Burguês!

Nem sabíamos o que queria dizer "burguês". Ele nos botava pra repetir isso. Eu achava que burguês queria dizer bicha, e ficava meio constrangido de chamar titio disso, mas pensava: se ele é que está pedindo, se ele gosta, tudo bem!

E aqui estamos Sakuro e eu, agora, a distribuir currículos em branco.

Senhores, está na hora de escancarar a boca cheia de dentes e esperar a morte chegar.

d.b iv/v/mmxi xv:xix - ouro de tolo


Nota do Editor:

Abaixo estão dois vídeos preparados para acompanhar a postagem, cujo conteúdo será replicado oportunamento. Quem fala o que quer...

Quem fala abaixo é Luiz Dantas, servidor da Auditoria Interna do INSS em Salvador, colega de trabalho, portanto, do Editor do CFL.



Quem fala abaixo é o Editor do CFL.

3 de maio de 2011

Caê no Caetano

Por Anne K.

Faz um tempo que procuro a intensidade que encontrei no Veloso. Ora tão baianamente calmo, dizendo suas palavras com uma voz tranqüila e doce, ora entrando nos meus ouvidos como quem entra numa casa sem dono e sem medo.

Há pouco eu ainda dizia que não gostava por não conhecer, então fui apresentada ao Cê, disco dele de 2006, que me proporcionou uma degustação de tudo o que Caetano significa, não só como o cantor que revolucionou o cenário musical brasileiro, mas me deu a impressão de conhecê-lo intimamente, como aqueles amigos que se conhecem em bares.

O disco é uma mescla de guitarras distorcidas, com palhetas marcadas, bateria acelerada e um baixo insano, lembrando toda a violência e vivacidade do rock'n'roll, com a voz calma e tranquila de Caetano. Letras fortes, diretas, sexuais, íntimas... Lembram uma conversa informal, um jogo de relações ainda não muito bem estabelecidas.

Os arranjos musicais são uma atração à parte. Cada acorde, cada nota, parecem ter sido propositalmente pensados para mergulhar o ouvinte em um extase hipnótico. As sensações das músicas, que ora tão sutis e ora tão extravagantes, não são inseridas no ouvinte, mas ao contrário, insere-o nela. Você se percebe dentro das músicas, em meio às notas doces, letras pesadas e vice-versa.

A intensidade do álbum é notável! Para os que já conhecem e admiram Caetano, o disco tão cheio de complementos e experimentos traz um novo frescor, um novo sabor. É um revival musical. Para os leigos, é um banquete de pequenas porções do que Caetano Veloso, enquanto músico, e um almoço de grandes pratos do que Caetano Veloso, enquanto ser humano.

O álbum se inicia com a música Outro, que por sua vez se inicia com a palheta marcada, guitarra levemente distorcida, bateria nervosa e um baixo que me lembra alguns rocks dos anos 50. A música ainda tem um apelo teatral e um solo de lembrar os ruídos tranqüilos de Jimmy Page. A letra é uma atração à parte e em uma palavra eu resumiria em esplêndida! Vemos essa irreverência e agressividade simpática em outras músicas como Rocks, Musa hibrida, Odeio, Homem, O herói... E esta última é de fato uma poesia com acompanhamento. Creio que é uma das críticas mais amargas e bem elaboradas que já pude ouvir.

Logo depois, temos um choque com uma música de levada tranqüila, com um baixo que de tão rápido, lembra o som de um clássico violoncelo. Uma música blue, Minhas Lágrimas. É como quando bebemos café quente e logo depois um copo de água gelada. A voz de Caetano agora tem maior destaque nessa música. A impressão que tive é que a melodia é apenas um acompanhamento, para uma poesia recitada, novamente. Então seguem músicas mais intimistas e calmas, que ganham uma leve distorção, trazendo a cara do blues à memória. Assim como ela, Não me arrependo, Um sonho levam as mesmas características.

Dentre as músicas está Waly Salomão que não tem muitas distorções, é uma música que é marcada intensamente pelo bumbo da bateria. Algo que lembre Mercedes Benz. Letra crítica e direta. E outra que é muito interessante é a Porquê?, que é uma repetição de duas ou três linhas de letras que falam muito mais que um discurso político.

E do disco, posso destacar como melhor música para mim, Deusa Urbana. Essa estímulou uma das coisas mais lindas da vida de uma pessoa: Ser tratada pela música. Sabe, caros leitores, creio que a música é a única coisa de fato sobrenatural. O poder que ela exerce sobre as pessoas não tem explicação. Não há como descrever com exatidão a sensação que a música pode nos dar. Deusa Urbana é a música do álbum que mais me falou ao pé do ouvido. Uma música que fala com você olhando nos olhos, sem máscaras ou sarcasmo.

O disco é intenso, denso, forte, gritante! Música que bate na sua cara e grita: Seja homem! Música que te chama para um café num fim de festa. Música que te veste e aquece. Música que tira sua roupa e te chupa com notas sutis. Música te ferve. Música que te esfria. Sem dúvida, esse disco foi um dos melhores presentes que pude me dar e um dos melhores remédios já receitados pra mim. Degustem...

2 de maio de 2011

Vá você!!

Para Maurício, que sabe as razões...

Há um poema do João Cabral de Melo Neto (perdoe falar do sagrado em meio a profanos) em que ele diz algo, mas não diz; implicita explicitamente. Vejam:

Tecendo a Manhã

1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

Na produção abaixo (vide agora o que quero dizer com profanar), há algo que lembra isso nesse singelo "vá você"

Familiar, Maurício?!.



vá você

não há o que fazer
você se recusou a me dar atenção
e eu não vou esquecer
quando eu disse que sim você falou que não
eu tentei entender
eu quis lhe explicar mas você se opôs
o que eu posso fazer
cê só pensa em você não pensa em nós dois

vá você
num bota minha mãe
no meio disso ela não tem nada a ver
num xinga minha irmã
ela não faz fofoca ela não é você
corno é o seu pai
pergunta pra sua mãe que você vai saber
viado é seu irmão
não desgruda de joão cê pensa que eu não sei

vá você
pode me ameaçar
pode descabelar eu tô é por aqui
num fala assim de pai
que pai morreu dizendo pra eu largar de ti
cê aprontou demais
eu nunca tive paz derna que eu te achei
naquele pardieiro
chei de gigolô lésbica puta e gay

De: Paulinho Dagomé
Por: Isaac Mendes

Muito Tempo Depois

... é que Fábio e Maurício só nasceram muito tempo depois.

Fábio, Maurício, Eu, Petrônio e Paulinho II

Eu, Fábio, Maurício, Petrônio e Paulinho

30 de abril de 2011

Honrar a Vida: Um Canto Sobre o Valor da Vida

Por Ruy Enrique Cosio Papadópolis (*)



Sem dúvida alguma, quem ouve a belíssima canção da compositora argentina Eladia Blasquez - que foi magistralmente interpretada por vários artistas da talha de Mercedes Sosa, Marilinia Ross e Sandra Mihanovic (que tem uma preciosa versão que compartilho aqui com vocês) - não pode deixar de refletir acerca de seu mensagem, pois de uma ou outra forma, toca a alma de muitos de nós e nos incita a refletir sobre a letra da canção.
No, permanecer y transcurrir no es perdurar, no es existir, ni honrar la vida.
Hay tantas maneras de no ser, tanta conciencia, sin saber, adormecida.
Merecer la vida no es callar y consentir tantas injusticias repetidas.


Es una virtud, es dignidad, y es la actitud de identidad más definida.
Eso de durar y transcurrir no nos da derecho a presumir
porque no es lo mismo que vivir honrar la vida


No, permanecer y transcurrir no siempre quiere sugerir honrar la vida.
Hay tanta pequeña vanidad en nuestra tonta humanidad enceguecida...


Merecer la vida es erguirse vertical más allá del mal de las caídas.
Es igual que darle a la verdad y a nuestra propia libertad la bienvenida.


Eso de durar y transcurrir no nos da derecho a presumir porque no es lo mismo que vivir
Honrar la vida
REFLEXÕES SOBRE O VALOR DA VIDA?

Porém, creio não ser alguém que deveria estar qualificado para escrever umas reflexões sobre um canto ao valor da vida. Por que dentro de mim há duas partes que lutam, se contrapõem, vencem umas vezes e perdem outras. Existe uma como reflexo da outra em universos paralelos e coincidentes. Uma parte que gosta dos presentes da vida, que é vital, que acredita no amor, na pureza, na alegria, no que nasce e vive. Mas também existe a outra parte, que tem raiva das coisas que não acontecem na vida, das falências, dos desencontros, da falta de amor, da pobreza, da injustiça, da morte e suas variações e seus ódios. Sou alguém que intentou desertar antes do final e fracassou. Que sabe que a retórica da beleza de volver-se a levantar é falsa, pois não temos outra eleição, não é uma virtude: é uma tarefa de castigo. Não existe outra opção. A grande diferença está na posição vertical que nos dá a dignidade. Assim, como posso escrever sem cair numa espécie de hipocrisia ao ser parcial só com uma parte? Alguém não crente pode louvar a Deus? Pode alguém que não é feliz falar apropriadamente da felicidade?

Vou a tentar.

Para iniciar estes comentários devo dizer que poucas vezes encontrei um titulo que quase por si mesmo seja toda uma obra completa. Basta ler e deixar voar a mente para saber a força da mensagem que vai detrás.

QUE NOS ENSINA A CANÇÃO?
Para mostrar respeito e reconhecimento ao valor que têm a vida (isso é honrar), para tornar-nos atores da honra, a chave esta na atitude do ser. Vamos a descrever brevemente o que a canção fala indiretamente do que isto implica.

A ATITUDE DO SER
Sem permanecer. Temos que fluir e deixar fluir a vida através de nós. Não temos que ficar parados desejando que os momentos se tornem fixos para sempre. Todo flui na existência.

Sem presumir. Somos tão pequenos frente da imensidade da existência que nada do que poderemos lograr ou alcançar a ter, vale nada. Nossas vitórias o sucessos são brisa num furacão.

Sem vaidade. O ego é o caminho para sofrer. É para depender da aprovação dos outros que cultivamos nosso próprio sofrimento ao acharmos melhores que os demais.

Sem transcorrer. Não é deixando que a vida transcorra simplesmente que vamos a encontrar a chave de marcar nossa sina, que passamos por aqui. Temos que influir e afetar a outros a nosso passo.

Sem cegueira. Simplesmente não enxergamos a realidade quando somos cegos da dor, da injustiça, das mentiras que construímos e acabamos acreditando nelas. Cegos das mentiras do amor e seus servos: o sexo e os apegos.

HONRAMOS O SER AO VIVER A VIDA

Com Dignidade. Somos dignos quando não deixamos atrás os sonhos e os ideais que são nossos princípios e valores.

Com coragem. Não abandonar-nos à dor e aos lamentos. Reunir forças para voltar a enfrentar as caídas, uma e outra vez.

Com Verdade. Deixar de mentir-nos é o primeiro passo para dizer as coisas pelo que são, sem trocar significados e nomes por nossa fraqueza de enfrentar as conseqüências.

Com Liberdade. Não seguir os modelos impostos por nossos prejuízos, nossas frustrações, nossas crenças. Seguir o coração e o que nos faz sentir a nós mesmos.

PARA MERECÉ-LA

Estamos dispostos a fazer as coisas que devem ser feitas para que possamos merecê-la?

A vida não é grátis. Tem um preço. DEIXEMOS NOSSAS PASSADAS NA AREIA CONSCIENTES DA BREVEDADE DO TEMPO. O EFÊMERO DE NOSSO PASSO.

(*) Ruy é um amigo boliviano, consultor de empresas e já foi citado neste blog no post http://cemfinslucrativos.blogspot.com/2011/04/rosa-no-asfalto.html

28 de abril de 2011

Uma Aquisição Interessante

Djavan - A rota do individuo (Ferrugem)



Por Fábio Sena

Aquisição extraordinária domingo passado, na feira do rolo: Djavan, Coisa de Acender. O título diz muito pouco do conteúdo. Submerso nos escombros de uma mocofaia estruturada para ser exibida no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Cd era esmagado por outras várias obras musicais cujo valor merece reflexão antropológica. Arranquei-o das profundezas num maravilhoso golpe de sorte e, dando manutenção à tática perversa do desprezo de quem deseja com avidez o objeto, o depositei novamente nos escombros - que lembravam o Afeganistão pós-ataque bushiano. Ah! Como doeu ver Djavan submetido a tais agruras. Mais ainda ter que vê-lo servindo de objeto de barganha irresponsável. Mas como conciliar duas práticas extremamente distintas. Fato é que imediatamente retirei-me do local e, num relance, virei-me para o vendedor e indaguei do preço. Espantei-me com o que ouvi. Teria ele pronunciado treze ou três reais. Meu proverbial ceticismo inflacionou a idéia e afastei-me, não o suficiente para ouvir a outra proposta. “Faz dois”. Que bom, pensei!. Meu coração palpitou, mais ainda quando lembrei que já havia investido meus parcos recursos na compra de um Cícero, um Petrônio e um Althusser, a preços bastante camaradas. Restava-me no bolso o último e, mais que nunca valioso, “um real”. Numa ação enérgica e desesperada, extraí do bolso os vinténs e praticamente os joguei nas mãos do vendedor, cujo semblante e indumentária estão a merecer maior atenção deste cronista, que promove este relato ainda em estado de êxtase desenfreado.

Apanhei o Djavan e imediatamente evadi-me do local, temendo uma revisão de preço por parte do feirante. O mesmo aceitou o real quase que como imposição. As coisas sucederam num átimo de tempo tão miúdo que havia o risco de uma nova versão ser posta em prática. Embrenhei-me feira adentro como uma ratazana assustada. Num momento kakfiano, senti-me estranho e perseguido pelos feirantes, e corria. Entendi a essência maior de Chico: “quanto mais eu corria mais eu ficava”. Fato é que, não sem alguns arranhões e dissabores de outras ordens, alcancei o exterior do estertor: a feira.

Na Frei Benjamin, relativamente liberto dos monstros maus que me perseguiam, pude saborear o valor da compra. Apalpei a obra que buscava encontrar fazia anos. Senti um prazer típico daqueles experimentados em outras eras na mesma feira do rolo, do período em que eu e Maurício, ávidos por rock, comprávamos de Ademir - no tempo em que este só comercializava vinil - as obras q’inda hoje guardo comigo.

O disco, de 1992, é uma pérola. Neste momento mesmo estou a ouvi-lo. A tarde, calma e de sol fresco, constituiu o cenário perfeito para deliciar-me. O disco é todo bom. Adorei-o na inteireza porque coerente consigo mesmo, porque sua fórmula é a simplicidade, e seu conteúdo um mundo vasto. Adorei-o todo.

A Rota do Indivíduo (ferrugem), que abre o disco, remeteu-me imediatamente ao distrito federal. São meros e infinitos quatro minutos e vinte e quatro segundos de uma nostalgia avassaladora, de uma beleza inefável, que já me conduziram, ontem e hoje, para várias eras da existência. A letra de Orlando Moraes, muito bonita, ainda está aquém, muito aquém da beleza melódica implementada por Djavan, que materializou um sentimento cuja razão é desconhecida. Trata-se de uma rota verdadeiramente individual e incoerente, sem qualquer obediência à lógica formal. O conjunto, no entanto, letra e música, são quase uma obra cinematográfica. As imagens, repletas de um lirismo que beira à brutalidade, invadiram minha mente e dominaram meus sentidos, reduziram-me a uma condição primacial. Logo cedo, acordaram-me com a canção. O sono latente aliado à preguiça idem, mais a conjunção das imagens de um sonho que me levaram a eras mesozóicas de minha existência, produziram um efeito devastador em meu corpo, meu cérebro, minha alma... Fui ferozmente arremessado ao vazio, ao abismo musical de proporções inteligíveis, inexplicáveis.

Boa noite, a da seqüência, é de uma musicalidade cuja beleza reside exatamente na despretensão, elemento característico da obra djavanística. A canção não pretende eternidade e também não busca sagrar-se. Parece ter surgido de uma idéia de fim de tarde, ou num tédio matutino. Mas como ela se alia em beleza a Ferrugem. Como ambas se entrelaçam. Um verso simples como “quem não tem pra quem se dar o dia é igual à noite” é pronunciado com tal beleza, numa sonoridade tão elástica e profana, que minha mente ébria o equipara a Dante, a Drummond.

“Só dizer sim ou não, mas você adora um se”, eis aí uma obra sobre a qual os críticos musicais e literatos deveriam se debruçar. Se reúne em si ilhas, arquipélagos, florestas, desertos, mundos inteiros porque seus versos vão no íntimo do átomo de nossas composições pessoais, e independe de nacionalidade, do credo e da cor. Em menos de cinco minutos, uma verdade. O eterno “se” doloroso, que a todos atordoa. Aquela sobre quem ele fala, para quem o “se” é uma estratégia de vida, faz doer em todos a dor universal mais permanente e constante. Dor de dente o tal de “se”. Afeta-me também.

Em Linha do Equador, Caetano se reencontra, mas graças à beleza melódica imposta por Djavan. Que coisa linda esta música, que graça simples, que empatia com o tudo, que propriedade raríssima do Caetano recente, que união literária e musical mais bem acabada. A canção - parece - é uma verdadeira descoberta platônica: estava lá, pronta, no campo das idéias, e os sábios souberam trazê-la, humanizá-la e apresentá-la.

Por fim, seguem nessa linha de beleza Violeiros, Andaluz, Outono, Alívio (bela melodia do baixista Arthur Maia) e Baile. Não me lembro de disco que me tenha causado tamanha sensação de liberdade e desejo de viver como este nos últimos tempos, nos quais mais me surgem perspectivas de ascensão da mediocridade como autoridade suprema.

Com Djavan, nos últimos dias, recobrei a sensibilidade de percorrer minha trajetória pessoal, resgatando da memória, cada dia mais dispersa e desgastada, na busca dos elementos que contenham algumas respostas. Desnecessário informar que nenhuma resposta encontrei porque - parafraseando o velho e insubstituível Pessoa - nenhuma resposta há. Meu ceticismo seria capaz de encontrar esta resposta - que não há resposta - mas a evasão que promovi de mim mesmo serviu para ocupar um local neste vasto espaço onde há resíduos de uma forma de vida onde a poesia é cultivada sem os adereços de mediocridade que esta “modernidade” impõe.

Concluo: é engraçado notar que, mesmo quando submerso num mar de agruras que não se manifesta nem se materializa, é possível detectar aqui e acolá flores e arte poética que permitem o deslumbramento e impulsionam a mente a redimensionar-se, fazendo o sujeito exacerbar na criatividade.

Criar, inclusive, tem sido o grande elo entre este narrador de histórias desconexas e a vida. Criar tem sido a aura e a alça deste caixão existencial que sustento por profunda paixão à morte e seus sortilégios. Segue-se.

Foi Uma Pedra que Rolou

Em compensação, Peninha, Pedro Caetano, seu colega de profissão, diferentemente de você, submetido à mesma prova teve outra reação. Fábio Sena, especialista em Música Popular Brasileira, manda-me a dica abaixo: a canção Foi Uma Pedra que Rolou, interpretada por Silvio Caldas, que diz:



Não quero nem faço apologia à revolta, ao histerismo nem à irracionalidade, friso. Apenas apelo ao bom senso, como quereria Roberto Carlos e as baleias. E o bom senso manda que, uma vez perdendo-se um grande amor, a gente deve manifestar, pelo menos, lanpejos de desespero.

Cá está a letra na íntegra:

Me levavas jurando ter grande afeição por mim
Tu foste embora me deixando triste assim
Isto é cruel, meu Deus do Céu,
Isto é demais, isto é pecado,
E não se deixa um homem assim abandonado

Eu que era crente e digo o mesmo prá você,
estou desiludido.
Destruíste o castelo,
Tão bonito que eu havia construído
Tens um coração de pedra, falsidade igual ä tua ainda não vi,
Vou viver te maldizendo,
E maldizendo o dia em que te conheci,

Foi uma pedra que rolou da ribanceira da desilusão.
E redundou, e redundou na causa morte,
Do meu pobre, do meu pobre coração,
E eu que já pensava ter um pedacinho
Pequenino de felicidade.
Vi tudo desmoronado,
E destruído pela tua falsidade

26 de abril de 2011

Completamente Seu

Foi Caetano que - homem de bom gosto - emprestou seu talento à canção do Peninha: Era uma brincadeira. A canção, na voz de Peninha, já era/é um clássico. Na infância, quando foi lançada, ouvimo-la até doer os tímpanos. E já naquele tempo eu já era capaz de identificar, de ouvido, onde o autor fora feliz. Vejam, abaixo, se tem fundamento minha análise.





Tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo, crescendo me absorvendo e, de repente, eu me vi assim completamente seu.

Esse "completamente seu", concludente, arredondado no fim da frase, como se letra e melodia fossem irmãs siamesas, é um dos pontos altos da canção.

Vi a minha força amarrada no meu passo.
Vi que sem você não tem caminho eu não me acho.
Vi um grande amor gritar dentro de mim como eu sonhei um dia.

Vejam, novamente, a frase cabe completamente na "frase melódica". "Um grande amor gritar dentro de mim!".
O homem estava no melhor dos mundos. E, se bem conheço as mulheres, isso é tudo que elas gostariam de ouvir de um homem. Tô errado, Naná?

Quando o meu mundo era mais mundo e todo mundo admitia uma mudança muito estranha: mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar.

É como se ele estivesse fazendo prosa, mas - meu Deus! - é poesia e é música.

Quando a canção se fez mais forte, mais sentida
Quando a poesia fez folia em minha vida

Mas - trágico -, olha que ele, sem ao menos nos preparar, dá o recado sem preliminares. Faz doer na gente tanto quanto nele, ao ouvir dela a notícia infausta:

Você veio me contar dessa paixão inesperada por outra pessoa.

E, ao mesmo tempo que nos dá a pior das notícias (a queima-roupa), lá vem ele com uma aceitação igualmente inesperada.
Mas não tem revolta, não; eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom é melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom que eu tenho em mim (eu tenho sim)
Não tem desespero, não; você me ensinou milhões de coisas


Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz

Ora essa! Cadê o sofrimento natural, Peninha?! Cadê a revolta necessária e imprescindível?!
Como assim você me ensinou milhões de coisas?! Onde você foi achar tanta racionalidade?!

Deixa eu acalmar um pouco...

Vamos imaginar, Peninha, que tal fato (a paixão inesperada por outra pessoa) ocorresse numa fase do seu casamento onde a relação estivesse, vamos lá, morna. Onde o casal, você e ela, já estivesse mais pra lá do que pra cá. Ai, tudo bem, dava pra aceitar você dizer: "Não tem desespero, não". ou ainda: " Eu só quero que você se encontre".
 
Mas, irmão, ela foi dar a maldita notícia exatamente no momento em que:
a) você se viu completamente dela;
b) você via que sem ela não havia caminho;
c) sem ela, você não se achava;
d) seu mundo era mais mundo;
e) todo mundo admitiu uma mudança muito estranha: mais carinho, mais pureza, mais calma, mais alegria no seu jeito de se dar;
f) a canção se fez mais forte, mais sentida;
g) a poesia realmente fez folia em sua vida.

Veja que o quadro geral de seu coração, Peninha, era praticamente celestial.

Tudo bem, não quero condená-la. Foi tão somente uma paixão inesperada por outra pessoa.
Mas é inadmissível você vir com:
"Não tem revolta, não!".

Tem revolta sim, e das grandes!

A Rosa no Asfalto

Meu amigo se chama Ruy Enrique Cosio Papadópolis. Um caso improvável. Uma mentira. Uma ficção. Uma impossibilidade. Pelo fato de - no mundo empresarial - manejarmos as mesmas ferramentas (planejamento, processos, estratégias, desenhos organizacionais), vimo-nos envolvidos num mesmo projeto. Um grande projeto. Inteligentíssimo, ele sabe das coisas. Conhece o universo corporativo. Sabe, como poucos, os detalhes do ato de gerenciar e de executar. E é surpreendente o quão competentemente ele educa e aprende. Mas muito mais mais supreendente é que esse mesmo Ruy é um poeta, e filósofo, e sábio, e sensato, e espiritualista, e letrado, e musical, e culto, e viajado e..., pasmem!: humano.

Sou amigo de um homem sem medidas.

25 de abril de 2011

Manga

Mainha tem, no seu quintal, um pé de manga diminuto. É pequeno, mas quando dá, dá para valer. As mangas têm sempre coisa de 1kg. Essa, ao lado, mainha guardou-ma durante dias, até que, chegando em Conquista, dei cabo da bendita. Tarefa difícil, já que enorme. Antes, porém, registrei-a para a posteridade. Antigamente, nos tempos da Avenida Sergipe 615, tínhamos pés de abacate, que eram imensos. Mas um deles, quando dava, dava pra valer. 1k de abacate.

23 de abril de 2011

A Escola dos Deuses

Recebi de presente, do meu amigo Cláudio Brüehmüeller (pronuncia-se brimiler), o livro A Escola dos Deuses, de Stefano Elio D´Anna. O livro sintetiza - num enredo moderno e ocidental - toda a sabedoria antiga, todas as idéias presentes nas obras dos Pensadores gregos. Há nele frases do tipo: "O mundo é subjetivo, é pessoal!... É o reflexo especular do nosso ser... Visão e realidade são a mesma e idêntica coisa; o que as divide é somente o fator tempo...", ou ainda: "Um dia você compreenderá que não há nada a adicionar, mas muito, muito a eliminar... para poder saber.", e ainda: "Atribua a si mesmo a culpa de tudo, assuma a responsabilidade de tudo aquilo que lhe acontece. O segrego dos segredos é o Mea-culpa.",, e mais: "A partir do momento em que você percebe que o mundo é a projeção de você mesmo, você está livre dele."

Para entender e aceitar o que vai na obra é imprescindível um nível muito alto de abstração. Sutil por demais, por demais profundo.

Baba das Nigrinhas


Alguns amigos me convidaram, ontem, para participar do Baba das Nigrinhas. Baba, na bahia, é um jogo de futebol num campo qualquer. Ocorre que vários homens, em vários locais da cidade, se vestem e se pintam como uma mulher para jogar. Recusei o convite só por um motivo: não estou em forma para correr. Que, se eu estivesse, punha um vestidinho curto e tava lá colado. Ora, Leo Kret - que, suponho, todo o Brasil conhece - esteve na festa, sobre um trio - conforme se verá no vídeo acima. Pois imaginem o gigantesco engarramento causado pela(o) nossa(o) vereador(a).

O evento é engraçadíssimo. Vestidos de todos os gêneros: longos, curtos, decotados. E, claro, o tremendo mau gosto. Se se quer imitar as mulheres, é a pior das imitações. Se se quer caricaturar, ai tudo bem. Se se quer parecer piriguete, tá muito mal. Ok, eu sei eles não querem nem uma coisa nem outra.

Para que vocês tenham uma clara idéia do que é o Baba das Nigrinhas, vejam esse video.

22 de abril de 2011

As Meninas do Brasil

Quando eu ainda morava em Ondina, acompanhei a instalação da escultura As Meninas do Brasil, obra da artista Eliana Kertész. Difícil dizer em que a Eliana mais acertou: se nas esculturas em si, se na disposição das mesmas no espaço daquela esquina, se na escolha da esquina. Não sei. Sei que elas são interessantíssimas. Contudo, volta e meia alguém - um desses "descompreendidos" - vai e diz: "que mau gosto essas gordas ai!". É imprescionante. Você, quando vier a Salvador, visite-as. É bem fácil chegar até elas. Estando na orla de Ondina, siga em direção ao ISBA. Pronto. Elas estão bem ali. Fundidas em bronze e com quase 3 metros de altura cada uma, as simpáticas e leves garotas estão desde 2004 no canteiro central da Avenida Adhemar de Barros. E as meninas têm nome e nacionalidade. Damiana (Africa); Catarina (interior do Brasil) e Mariana (Portugal). Cada uma olhando para seu local de origem. No mundo atual, em que vivemos a apologia à magreza, Eliana "se inspira sempre em mulheres com formas robustas e fartas, manifestando sua irreverência e dando seu recado de que não existe a ditadura da silhueta perfeita." Vale a pena conhecer a obra completa da Eliana.

20 de abril de 2011

Abandonado por Ulisses

Fui abandonado por Ulisses. Há um mês, aproximadamente. E há um mês que, na falta dele, valho-me de Del, cujos serviços, pasmem!, tem qualidade superior à do filho de Laerte. Mas deixem que vos conte toda a história, de modo a evitar interpretações precipitadas que, com alguma intencionalidade, provoco. Pois bem. Há já muitos e muitos fios de cabelo que só vou a um único cabeleireiro: Ulisses. Ulisses corta cabelos no Salão Realce, que fica na Rua Direta da Piedade, entre a Piedade e o Lugar Comum, logo após o Banco do Brasil. Ocorre que, há um mês, tendo chegado de viagem com aparência de Sansão, nada mais tinha na cabeça senão ir ter com Ulisses, e submeter-me à sua tesoura.

- Ulisses não trabalha mais aqui, broder.
Foi com essa frase ecoando em meus tímpanos que me sentei, num desalento comum aos desamparados, comum àqueles que visitam terras onde filho chora e mãe não vê. Ora, só Ulisses sabia a medida certa de cada fio! Só ele sabia fazer aquela estética dégradé! Só ele tinha a perícia, unindo tesoura e navalha, de podar algum fio mais saidinho, mais assanhado! Ergui, mentalmente, as mãos para os céus buscando, nas alturas, solução para meu drama. Valei-me vós, ó deuses das profundas capilaridades!
- Tem preferência por outro profissional, broder?
Que pergunta! Quem nesse mundo poderia substituir Ulisses?! Ninguém!
- Del corta bem pra porra.
- Quem é Del?
- (ele apontou com o beiço estendido).
Eu não tinha escolha. No dia seguinte haveria uma reunião logo cedo, e o aspecto de Sansão poderia causar má impressão.
- Ok. Eu aguardo.
Daquele dia até esta parte, já estive com Del duas vezes. Estou feliz e espero que ele não me abandone. Nunca. Que nunca me Delete.

11 de abril de 2011

Justiça Seja Feita

Um dado histórico: lá em casa, só quem, de fato, deu duro na vida, fomos eu e Petrônio. Fábio, Maurício e Paulinho foram mal acostumados por painho e mainha. Fábio e Maurício só pegaram no duro quando se casaram, e, mesmo assim, um duro um tanto quanto flácido. Já Paulinho, esse, sim, até hoje - estamos falando de quase meio século - vive da fala. Sim, a mesma fala que o faz retirar leite de uma vaca pintado num afresco. A foto ao lado ilustra bem a minha e a vida de Petrônio . Dá pena, gente. É um garoto, e já na labuta!